Por que
me olham desse jeito?
Será que não compreendem
o quanto sofro
e que minha vida se desgraçou
e tomou o pior rumo,
desde o dia em que o conheci?
Será que não entendem
que por amor tudo vale e tudo pode,
até mesmo a troca de problemas,
dificuldades, temores, desgraças etc., etc..., etc...?
Será que não sentem o que sinto,
pois parecem desconhecer
a força da incompreensão
por que passo neste momento?
Será que minhas lágrimas não bastam
e nem comovem esses corações endurecidos,
protetores dos bons costumes
e da moral elevada?
Será que meus gritos enfraquecidos
não aquecem os ouvidos,
de tanto que os cobrem,
para não escutarem meus lamentos?
Será que viver é assim?
Que o mundo é dos fortes
e que ninguém se arrisca mais,
tentando ser feliz,
não importando a que custo?
Será que o amor atrai barreiras e divisas,
que nos impedem a felicidade,
mesmo que seja
só por períodos?
Será que preciso viver escondido,
trancado em quartos escuros,
para não ser apedrejado
pelos hipócritas conservadores
de um amor que jamais conhecerão?
Será que não tenho direito
de dar minha vida
a quem deseja me amar,
simplesmente por negar-lhe
essa tal felicidade?
Será que terei a coragem
de olhar e ser olhado
de uma maneira doce e meiga
que irá mostrar ao mundo
o quanto humano eu sou?
Será que viver é assim,
escondendo e escondido,
sem desejos,
sem paixões e sentimentos?
Será que deverei me curvar,
até tocar meu rosto no chão,
para ser digno de encarar os outros,
que se sentem os donos do mundo
e senhores da verdade?
Será que irei continuar sofrendo,
sem alguém que me ampare
e sinta que também tenho sentimentos
e que dentro de mim
bate um coração idêntico
ao daqueles que me discriminam?
Será que não poderei mais pronunciar: “te amo”
àquela que talvez descubra em mim
traços de um ser humano
que também merece ser feliz?
Será que mudei tanto
que nem meus amigos
me reconhecem mais,
por isso não mais os vejo,
nem escuto suas vozes?
“Lembro-me das noites gostosas,
ao som de vozes cantadas
que, acompanhadas ao violão,
faziam das nossas noites
a alegria de toda uma geração.”
Sonhar, sonhar, sonhar.
pelo menos disso não sou proibido,
pois é o que ainda mantém
este corpo vivo.
Será que devo implorar
para que me arrumem um cantinho
onde, longe do mundo,
poderei ter a paz que mereço e sinto?
Será que ninguém
se lembra mais
de quanto era admirado
e amado por todos?
Será que continuarei neste quarto escuro,
trancado igual criminoso,
esperando que alguma alma bondosa
derrame em meus lábios
uma gotinha d’água,
única coisa que me mantém vivo?
Será? Será? Será?
Será que meu interior
mudou tanto assim,
tornando-me um monstro
que deverá permanecer enjaulado,
entregue à própria sorte?
Será que desconhecem em mim
a criatura divina,
criada a imagem
e semelhança do “Criador”?
Quando será
que irão tomar consciência
de que também quero viver
e gozar as delícias desta vida
que aos poucos me abandona?
Quando será
que irão compreender
que não desejei nada disso
e que foi somente o “amor”
que me pregou esta peça?
Quando reconhecerão em mim
um irmão
que precisa de apoio,
de muito carinho e atenção?
Quando será que irão entender
que julgar é bem mais fácil
do que estender a mão
a quem dela precisa?
Quantos “serás” terei que indagar
para entender por que me desprezam
e me jogam num canto qualquer?
“Por que amar?”
“Por que viver com quem amo,
se só me trouxe desprezo,
desgraça, doença e abandono?”
Sempre cantado e decantado
como o mais belo sentimento
porém, vejo em ti, “amor”
somente amarguras,
mágoas e tristezas.
Não deveria ter encontrado teus olhos
e neles depositado os meus
pois é assim, minha amada,
que aqui me encontro agora,
só, desamparado, amargurado,
abandonado e jogado neste quarto escuro.
Se eu apenas desconfiasse
que me atirarias nesse poço sem volta,
jamais deixaria, minha amada,
que tomasses conta do meu coração.
Se apenas, por mais leve dúvida tivesse,
suspeitasse quanto mal esse amor me faria,
jamais te olharia nos olhos
e por ti jamais passaria.
Cego, surdo e mudo fui,
joguei fora meus dias alegres,
minhas manhãs ensolaradas
e minhas noites enluaradas.
Atirei pela janela
tudo aquilo que desejava
somente para que tu, “amor”
junto a mim ficasses
e comigo compartilhasses
os momentos sublimes
de um amor sem fim.
Resta-me agora um quarto escuro,
um lençol a me cobrir,
um lenço a enxugar meu rosto,
de lágrimas que derramei por ti.
Sumiste como uma nuvem,
no céu eterno dos meus pensamentos,
para nunca mais ali aportares
deixando somente as marcas
de um amor passageiro.
Queria que me olhassem
e dentro de mim enxergassem,
para sentirem o que sinto:
“que sou e que existo.”
Talvez um dia compreendam
que “amar ainda é o caminho”,
mesmo que paguem o preço
de padecerem num quarto escuro,
sozinhos e com medo.
Talvez então compreendam
que deixar que “lá que morram”
não seja o meio correto
de abandonar quem mais amamos.
JC BRIDON